domingo, 16 de dezembro de 2012

Bento XVI e os Animais do Presépio

Várias pessoas manifestaram certa inquietude e até mesmo uma certa apreensão com a notícia da impressa a respeito do novo livro do Papa Bento XVI. Segundo a impressa ele teria cancelado ou negado a presença dos animais no presépio. Depois de refletir um pouco, resolvi partilhar estas minhas reflexões.

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que não é fácil emitir uma opinião absolutamente segura, pois não tenho o livro, o acesso ao livro fica meio difícil, estou aqui enfiado neste Mato Grosso e certas coisas aqui demoram pra chegar e o livro ainda não foi lançado no Brasil. Mas mesmo assim, cheguei a algumas conclusões, que relato abaixo.

1. O livro, pelo que percebi nas notícias da internet, é um livro bastante técnico, o papa é um professor de teologia, não se esqueça disto, e portanto, ele seguiu esta linha de "ser objetivo". Ele é um professor, logo, suas colocações não são dogmas de fé, são ensinos de um professor. Ele é papa, é lógico que vamos considerar seriamente o que ele fala, pela sua autoridade, mas no livro ele é um teólogo e muito bom.

2. Quantos aos animais, de fato, os Evangelhos ao relatarem o nascimento de Jesus não nomeiam diretamente nenhum deles. O que acontece é que as circunstâncias nos levam a deduzir a presença deles ao redor do menino Jesus. O Evangelho de Lucas nos diz: "E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria" (Lc 2,7); estrebaria é o local onde se guarda os animais, abrigados do frio do inverno e longe dos olhos dos ladrões; provavelmente havia ali alguns jumentos, burros, bois.... (é difícil determinar, o Evangelho não nos diz). As ovelhas e os cordeirinhos são evocados devido ao fato dos Anjos anunciarem a "Boa Nova" deste nascimento aos pastores, que cuidavam de seus rebanhos nos campos: "Havia no arredores uns pastores que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante a vigília da noite. Um Anjo do Senhor lhes apareceu..." (Lc 2,8ss).

3. O Presépio não é uma peça litúrgica originalmente falando, é apenas algo bastante popular. Basta observar que nenhum livro litúrgico faz referência a ele. Alguns padres durante a missa do Natal fazem uma procissão ao presépio, outros transformam em teatro a liturgia e outros ainda celebram como se ele nem existisse na igreja; não há nada descrito na liturgia. Conseqüentemente, o livro não afeta em nada o comportamento litúrgico nas Celebrações do Santo Natal. O presépio foi criado por São Francisco em Greccio em 1223, numa espécie de teatro litúrgico realizado por ele, ele não era padre, era diácono, isto dá-nos a entender que tal realização não foi durante uma celebração da Eucaristia. A partir deste fato, os franciscanos, espalhados pelo mundo, levaram o presépio. Ele é um ótimo instrumento de reflexão e evangelização, sobretudo para os mais simples, a respeito do “Verbo de Deus que se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14).
 
 
4. A presença do boi e do burro no presépio é bastante significativa. Para os Europeus, que vivem o Natal no período de um terrível inverno, o boi e o burro são sinais de calor, pois esquentam o menino com a respiração. Aquecedor é importante na Europa neste período, qualquer um pode morrer de frio, um recém nascido principalmente. Para nós da América Latina ter o boi o burro no presépio é sinal de pobreza com a qual no identificamos, “O Verbo de Deus se fez um de nós”! Mas, há um texto do profeta Isaias que nos ajuda a refletir um pouco sobre esta presença do boi e do burro: “O boi conhece o seu amo, e o asno a manjedoura do seu dono; Israel não conhece, meu povo não entende” (Is 1,3). À Luz deste texto se entende o fato de Cristo não ter encontrado lugar na hospedaria, o fato de ser rejeitado por tantos e sobretudo, já anuncia o fato da Paixão e Morte do Senhor. Imaginem: o boi e o asno (animais irracionais) reconhecem, mas o ser humano (bastante racional) não consegue reconhecer aquele que traz a paz (Cf. Lc 19, 41ss). É pra se pensar, não é?

Espero que estes pontos de reflexão ajudem a acalmar o coração de muitos, não há motivo para perturbação. Estas reflexões feitas por nosso Pastor Universal são boas para nos inserirmos de modo mais sério e mais comprometido no mistério do Senhor Jesus. Num mundo que respira ecologia, parece que tirar os animais do presépio é uma afronta, mas não se trata disto, é uma reflexão teológica que deseja ressaltar aquilo que é essencial: “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” ou ainda, “Deus amou tanto o mundo que nos deu seu Filho único, para que todo nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”(Jo 3,16). É isto que deve ressaltar aos nossos olhos, esta é a luz que deve nos iluminar como iluminou os pastores de Belém. A presença ou não dos animais deve ajudar-nos nesta reflexão se seguirmos as pegadas do profeta Isaías, por exemplo. Bom Natal! Que a Luz do Senhor Jesus que se assumiu nossa natureza humana invada sua vida de modo pleno.

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